quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Globo anuncia fracasso de Lula, o Filho do Brasil. Qual fracasso?

Por André Cintra

Em apenas três dias de exibição, o longa-metragem Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, foi visto nos cinemas por nada menos que 193.364 espectadores, segundo o boletim Filme B. O fato: é uma das maiores estreias de produções nacionais nos últimos cinco anos. A versão de O Globo: o filme que conta a vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já é um fracasso consumado.

Nesta terça-feira (5), o jornal da família Marinho se despreocupou com a checagem dos dados e deu como certa uma projeção da distribuidora Downtown Filmes. Assim noticiou que Lula, o Filho do Brasil “estreou vendendo cerca de 220 mil ingressos”. É verdade que, no caso, a estatística correta seria mais conveniente ao discurso alarmista e malandro.

O que o jornal não quis informar é que, com tal ou qual público, Lula foi o segundo filme mais visto no Brasil nos primeiros três dias de 2010, atrás apenas de Avatar. E com um porém: estreou em 354 salas — número muito inferior às 614 salas que exibiram o longa de James Cameron no mesmo fim de semana.

As artimanhas prosseguem. Numa comparação sem cabimento algum, O Globo afirma que a estreia de Lula esteve “longe do desempenho com fôlego de fenômeno de Avatar”. Só faltou acrescer que Avatar é o filme mais caro de todos os tempos e deve se tornar, ainda neste mês, a segunda maior bilheteria da história, depois de Titanic (1997).

Orçado em US$ 500 milhões (cerca de R$ 862 milhões), o blockbuster americano custou 53 vezes mais do que Lula, o Filho do Brasil. Na realidade, em pouco mais de 114 anos de existência de cinema, talvez cinco ou seis megaproduções hollywoodianas possam ser equiparadas comercialmente a Avatar. Mas, para avacalhar um filme sobre Lula, esses critérios pouco importam a O Globo.

“Não impressionam”

Lula teve um desempenho maravilhoso no Nordeste, foi muito bem no Rio e, em São Paulo, onde temíamos um resultado desastroso, ele se segurou. Diante da recepção negativa da crítica, por questões políticas, somar 200 mil espectadores é um sinal de que o longa pode emplacar”, declarou ao jornal Bruno Wainer, da Downtown Filmes. O Globo, naturalmente, jogou esse depoimento para o rodapé da matéria. Tampouco fez a ressalva de que, em qualquer 1º de janeiro, os cinemas estão mais esvaziados, devido às viagens de Ano-Novo.

Para a publicação da família Marinho, os números iniciais de Lula, o Filho do Brasil “não impressionam” sequer no mercado de filmes nacionais. É claro que, ao “provar” sua tese, o jornal não faz um ranking de grandes lançamentos recentes. Para quê? Não é para relativizar a qualquer custo a bilheteria do filme de Fábio Barreto? Então se compare logo ao maior sucesso brasileiro em mais de 30 anos — Se eu Fosse você 2.

É o que O Globo faz, omitindo religiosamente que a comédia dirigida por Daniel Filho se tornou a terceira maior bilheteria entre todos as produções brasileiras, com mais de 6 milhões de espectadores. No Brasil, além do mais, os filmes cômicos sempre foram os preferidos do público, segundo a Ancine (Agência Nacional do Cinema). Das 35 produções nacionais mais vistas desde 1970, 26 são comédias populares — de Mazzaropi a Renato Aragão, passando pelo campeão histórico de bilheteria, Dona Flor e seus dois Maridos (1976).

Lula, o Filho do Brasil é melodrama puro, protagonizado por um ator desconhecido. Mesmo assim, quem entende de verdade do mercado audiovisual sabe que o filme de Fábio Barreto tem condições de ultrapassar a marca de 2,5 milhões de espectadores — o que deve fazer dele o terceiro filme brasileiro mais visto desde 2005. Só ficaria, assim, atrás dos dois filmes da série Se eu Fosse você.

Ainda que fosse pouco para a visão nublada dos Marinho, cabe a pergunta: por que O Globo não usa o mesmo raciocínio para julgar seus próprios — e decadentes — índices comerciais? Diários como os americanos Wall Street Journal e USA Today têm, cada um, cerca de 2 milhões de leitores, enquanto O Globo patina para manter seus 250 mil exemplares por dia. Este mesmo jornal — apenas o 15º mais vendido em bancas e jornaleiros do país — não estaria ainda mais “longe do desempenho com fôlego de fenômeno”?

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