sexta-feira, 30 de abril de 2010

MOVÊ-LOS divulga manifesto contra discriminação homofóbica na UFC

O Movimento Pela Livre Orientação Sexual - MOVÊ-LOS divulga Manifesto contra discriminação na UFC, o documento relata o constrangimento sofrido por um aluno do curso de letras da instituição e reivindica respeito e cidadania. Leia na íntegra o manifesto assinado pelo MOVÊ-LOS e subescrito por entidades solidárias à luta dos companheiros.

Manifesto contra discriminação: transfobia nos banheiros da UFC/Curso de Letras

À Universidade Federal do Ceará,
Ao Centro Acadêmico
À Sociedade,

Acessibilidade aos Banheiros & o Respeito à Trans e Travestis

Historicamente, os banheiros foram lugares os quais pessoas com poder, autoridade ou riqueza negavam acesso a outras pessoas. Há uma centena de anos, apenas pessoas com posses poderiam se dar ao luxo de ter banheiros em suas casas. Os pobres eram forçados a usar sujos e fétidos banheiros públicos.

Nos Estados Unidos, até não muito tempo atrás, banheiros públicos eram divididos entre "brancos" e "pessoas de cor". Os banheiros reservados a "pessoas de cor", assim como os espaços reservados para tais pessoas em restaurantes e transportes públicos, eram muito mais inconvenientes e não-higienizados que as mesmas facilidades reservadas às pessoas brancas. A eliminação destes espaços se deu sob a insígnia de que separar significa no mais das vezes segregar.

No dia 24 de março de 2010, o aluno Emílio Araújo da Silva, cuja identidade de gênero é Sílvia, do curso diurno de Letras da Universidade Federal do Ceará, teve acesso ao banheiro feminino reclamado ao Centro Acadêmico do curso, embora vestisse trajes femininos. Esse não é um caso isolado, pois, diariamente, nós (homossexuais, bissexuais, trans e travestis) temos nossos direitos individuais desrespeitados.

As universidades e escolas são reflexos da sociedade. E isso faz com que as práticas homofóbicas e transfóbicas sejam tratadas com naturalidade. Essa omissão por parte do corpo docente dessas instituições tem como conseqüências: evasão escolar e universitária, segregação, exclusão, falta de diálogo, desrespeito aos homossexuais, bissexuais, trans e travestis.

O artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, Título II, dos “Direitos e Garantias Fundamentais”, diz o seguinte: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade". E no inciso XV do artigo que "é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Contudo, não há na Constituição termo algum que indique quem tem direito ou não de frequentar qualquer dos banheiros, seja feminino ou masculino.

As questões que envolvem transexuais e travestis dizem respeito à identidade de gênero. Diz respeito à nossa constituição enquanto pessoas: como vemos a nós mesmos, seja como mulheres ou como homens. A principal demanda das pessoas trans é o reconhecimento de suas identidades. O livre acesso a qualquer facilidade deve ser de acordo com a identidade de gênero da pessoa. Quem vê a si próprio como uma mulher, deve ser reconhecido como MULHER e deve ter garantido seu acesso ao banheiro feminino. Da mesma forma, quem se vê como um homem é, antes de tudo, um HOMEM e deve ter garantido seu acesso ao banheiro masculino. A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS TRANSEXUAIS E TRAVESTIS NÃO SE DÁ COM A CRIAÇÃO DE BANHEIROS DIFERENCIADOS, MAS SIM NA INCLUSÃO DESTAS PESSOAS NOS BANHEIROS JÁ EXISTENTES. Só desta forma as pessoas trans estarão incluídas socialmente, e não segregadas. Não somos seres anômalos, mas sim humanos que merecem RESPEITO.

O incômodo da presença trans nos banheiros convencionais é o incômodo racista ante a presença negra; é o incômodo xenofóbico contra o estrangeiro, o nordestino, o outro, este estranho. INCÔMODO. O ódio irracional, a rejeição, a repulsa ante o diferente. É o incômodo nazista que fez dizimar milhões e milhões de seres humanos nos fornos de Auschwitz; é o incômodo dos invasores europeus ante os habitantes originais da Pachamama, o grande massacre que se sucedeu e o oceano de sangue jorrado dos seus corpos inocentes, despedaçados pelo escárnio do invasor. É o incômodo da criança faminta na esquina, ignorada pelo olhar esnobe. O incômodo ante os inúteis, ante os doentes, os velhos, os inválidos, ante aqueles que de nada valem.

Sofremos a homofobia, lesbofobia e transfobia, nas praças, shoppings, escolas, universidades, no mercado de trabalho, na Saúde. Temos que desmistificar a questão que os homossexuais só procuram os banheiros públicos para a prática sexual; desmistificar que todo ou toda homossexual é promíscuo. Esse é o olhar que a sociedade tem. Ele não corresponde à nossa real condição. Nós do Movimento LGBTT lutamos diariamente para que não nos sejam impostos constrangimentos e/ou homofobia. Precisamos, antes de qualquer coisa, de diálogo entre o movimento e a sociedade. Nós temos que conhecer uns aos outros de verdade.

Nós não somos uma ameaça à sociedade, e sim ameaçados por ela. Não oferecemos perigo, porque nossos objetivos não são prejudicar nem ofender os outros. Também não queremos mudar o modo de pensar das pessoas para sermos aceitos. Tudo o que precisamos é de RESPEITO E CIDADANIA GARANTIDOS

Fortaleza, 30 de abril de 2010.
MOVELOS – Movimento pela Livre Orientação Sexual

Apoiam:

UJS – União da Juventude Socialista
ACES – Associação Cearense de Estudantes Secundaristas
UBES – União Brasileira de Estudantes Secundaristas
UNE – União Nacional de Estudantes
FBFF – Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza

Seguranças da UFPI que agrediram estudantes são condenados a pagar cestas básicas

Os estudantes da Universidade Federal do Piauí que foram agredidos pelos seguranças da instituição no dia 30 de outubro passado foram condenados a pagar 15 (quinze) cestas básicas pelas agressões físicas e verbais cometidas no ato violento que aconteceu durante o protesto contra a entrega de título de Doutor Honoris Causa ao ex-governador Hugo Napoleão do Rego Neto pelo Conselho Universitário da UFPI.

Na época do acontecido a Universidade Federal do Piauí, através de sua assessoria de imprensa, negou que tinha havido qualquer tipo de agressão por parte dos seguranças, mas para o DCE UFPI a verdade veio à tona e a justiça no último dia 28 comprovou as agressões e condenou os seguranças pelo ato violento que foi comandado pelo reitor Luís Júnior.

O DCE UFPI lamenta que a administração superior da UFPI esteja tratando as manifestações pacíficas com atos de brutalidade e deixa a mensagem de que os estudantes nunca irão calar a voz diante de barbaridades praticadas por qualquer administrador que vá de encontro aos interesses da comunidade universitária.

O Diretório Central dos Estudantes da UFPI não se rende ao mandatário Luís dos Santos Júnior e renova o convite à classe estudantil a erguer seu grito de luta e esperança por uma UFPI democrática e que sirvam aos interesses do povo do Piauí, pois precisamos resgatar a democracia interna da Instituição. Esse registro de violência ficará em nossa memória e não fará a luta parar, pois resistiremos sempre.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Marx contra o Estado? – Os enganos de um professor de filosofia

*Por José Carlos Ruy

Renato Janine Ribeiro investe contra Lenin, contra os comunistas e contra os partidos comunistas. Eles teriam adulterado o pensamento de Marx, do qual teriam se apropriado indevidamente, deixando na sombra um Marx “democrático” – tese que não se sustenta mesmo com um superficial exame das obras dos fundadores do socialismo moderno.

Uma cadeira acadêmica não significa o conhecimento automático da obra de um pensador como Karl Marx. É o que se pode concluir do artigo do professor Renato Janine Ribeiro, titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, publicado em O Estado de S. Paulo (27/04/2010), sob o título "Marx sem Lenin".

No afã de transformar Marx num mero liberal, Janine torce afirmações do fundador do socialismo moderno e afirma coisas que ele não defendeu, fazendo uma caricatura que o coloca entre o anarquista e o neoliberal ao atribuindo-lhe a defesa da destruição pura e simples do Estado.

Janine também acusa Lenin e os partidos comunistas de terem se apropriado, "indevidamente", do pensamento de Marx, falsificando-o. "Lenin adulterou o que havia de melhor em Marx - um certo espírito democrático", escreveu na conclusão de seu artigo, afirmando que não se pode "deixar Marx refém do comunismo histórico", que fez, a partir do leninismo, "um dos usos mais duvidosos que se pôde fazer do marxismo".

Cada um pode ter lá o seu próprio Marx na cabeça. O problema começa quando, para isso, faz afirmações que, elas sim, distorcem o pensamento originário de um autor (no caso, Marx) para fazê-lo caber em suas próprias inquietações. Renato Janine diz que o nome de Marx "foi fartamente invocado pelos partidos comunistas e/ou marxistas-leninistas no último século" e que "talvez esses partidos não passassem num exame sobre o pensamento de Marx". Nesse ritmo, adianta o que
imagina serem as posições de Marx sobre o Estado que, diz, não defendia nem o Estado máximo, nem o mínimo, mas "o Estado nenhum", aproximando-se dos anarquistas - e dos modernos neoliberais, é preciso dizer. E conclui que "esse Marx está muito longe do comunismo do século 20!"

Nosso comentador – e “modernizador” – de Marx investe contra Cuba e as experiências contemporâneas de construção do socialismo, mas seu foco principal é a questão do Estado que, tudo indica, não estudou a fundo seja na obra de Marx e Engels, seja nos escritos de Lenin, que Janine abomina e a quem atribui a fundação de um estado “totalitário e policial” e não a primeira experiência de construção do socialismo da história.

Não é necessário um estudo exaustivo para expor a "porosidade", digamos assim, dos argumentos do professor. A leitura do Manifesto do Partido Comunista; dos escritos históricos sobre a revolução na França (A Guerra Civil na França, O 18 Brumário de Luis Bonaparte, Lutas de Classe na França);da Crítica do Programa de Gotha, escrito por Marx em 1875; ou do próprio Lenin (particularmente O Estado e a Revolução, onde se surpreenderia ao encontrar uma enfática defesa do fim do Estado, ou o caderno com as anotações de Lenin para este livro, publicado sob o título de O Marxismo e o Estado) indicaria alguns pontos que Janine não levou em consideração.

Em primeiro lugar, são obras com abundantes argumentos pelo fim do Estado; neste ponto Janine tem razão. Mas, tudo indica, ele só teria lido esta parte da argumentação, deixando de lado a caracterização de classe do Estado que Marx e Engels queriam ultrapassar, e sem levar em conta principalmente o instrumento para realizar esta tarefa, o Estado de classe do proletariado. Eles deixaram, em seus escritos, frequentes referências à natureza do Estado contra o qual lutavam: ao Estado da burguesia. Finalmente, a descrição do caminho para se alcançar essa supressão: a instauração da ditadura democrática do proletariado.

As anotações de Lenin resumem esta argumentação espalhada pelos escritos de Mare Engels, e basta seu exame para demonstrar a falência teórica de Janine. Elas mostram que Marx e Engels estavam distantes dos anarquistas e dos liberais; que o Estado a ser destruído era uma organização concreta, o Estado da burguesia; que há um período de transição entre o capitalismo e o comunismo, o socialismo, durante o qual, para construir uma sociedade nova, o proletariado tem necessidade de um Estado próprio contra seus adversários de classe; finalmente que, sendo o Estado expressão de sociedades divididas em classes antagônicas, a condição para sua extinção é o fim anterior do capital e do capitalismo, e das próprias classes sociais.

Estas convicções foram mantidas por Marx e Engels durante sua longa atividade teórica e revolucionária. No Manifesto do Partido Comunista, de 1848, haviam caracterizado o poder político como a "a violência organizada de uma classe" contra outra e o Estado como o "comitê que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa". Contra o qual o primeiro passo da revolução proletária é a transformação do "proletariado em classe dominante", ou seja, "a conquista da democracia" e a construção de seu próprio Estado de classe.

Em 1872, numa carta a Teodoro Cuno, Engels dizia: acabe com o capital “e o Estado cairá por si só". E indicava a diferença, que considerava fundamental, entre o seu ponto de vista e o de Marx, e o dos anarquistas: "abolição do Estado sem uma revolução social prévia é um absurdo. A abolição do capital é precisamente a revolução social e implica uma mudança em todo o modo de
produção".

Engels voltou ao assunto num artigo escrito em 1883, por ocasião da morte de Marx, dizendo que, em relação ao fim do Estado, eles mantiveram "sempre a opinião de que para conseguir este objetivo – e outros muito mais importantes – da revolução socialista, a classe operária deve conquistar o poder político organizado do Estado e, com sua ajuda, derrotar a resistência da classe dos capitalistas e organizar a sociedade de maneira nova".

Este ponto de vista havia sido fixado por Marx, de maneira definitiva, em 1875 quando, nas anotações críticas ao Programa de Gotha (adotado pelo partido socialista alemão no congresso daquele ano), ele foi claro quanto à natureza do Estado no período de transição entre o capitalismo e o socialismo. Marx descreveu como os Estados modernos "assentam todos nas bases da moderna sociedade burguesa" sendo, portanto Estados de classe, burgueses. E reafirmou a fórmula que faz o escândalo dos antiestatistas (e antileninistas) de todos os tempos, a da necessidade de uma transição entre o capitalismo e o socialismo dirigida por um Estado cuja forma é a ditadura revolucionária do proletariado. "Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista medeia o período de transformação revolucionária da primeira pela segunda. A este período corresponde um período de transição política, em que o Estado não poderá ser outra coisa senão a ditadura revolucionária do proletariado", escreveu.

Onde está a diferença entre o pensamento de Marx e Engels e o pensamento de Lenin, a respeito da natureza do Estado e das condições de sua supressão, que Renato Janine assegura existir?

O estudo desapaixonado destes problemas indica, ao contrário, a continuidade entre o pensamento daqueles fundadores da moderna ciência política do socialismo e do proletariado, sendo Lenin o legítimo continuador da obra inaugurada em 1848 por Marx e Engels. Na época da revolução russa, foram os mencheviques que, paradoxalmente, traíram o pensamento de Marx ao se apegarem à letra de seus escritos como os crentes se fixam às obras canônicas de suas religiões. Eles deixaram de lado a realidade concreta da revolução russa que ocorria nas ruas e nos campos, e não nos livros, e cuja vitória, ao contrário do que pensa Renato Janine – e os críticos de Lenin de todos os tempos – confirmou os ensinamentos de Marx e Engels a respeito do poder político e de seu uso pelo proletariado.

A construção do socialismo na URSS sofreu vicissitudes terríveis em seu desenvolvimento, desfigurando o Estado proletário de direito e a democracia proletária que deveria viger sob ele. Foram problemas graves que precisam ser analisados e superados pelos comunistas e revolucionários. Mas a alternativa para eles não seria – como sugerem aqueles que pensam como Renato Janine – a
república democrático burguesa e suas instituições, mas a radicalização da democracia proletária e o reforço do poder do Estado proletário contra as ameaças das classes dominantes (internas e estrangeiras) e do controle social sobre aquele Estado.

Renato Rabelo, presidente nacional do Partido Comunista do Brasil, argumenta com razão que os teóricos do capitalismo são geriatras enquanto os defensores do socialismo são pediatras. Afinal, enquanto o tempo do capitalismo pode ser contado em séculos e este sistema revele os graves sintomas de sua senilidade histórica, o socialismo é ainda uma "criança histórica", com idade medida em poucas décadas. A história trágica do socialismo no século XX não autoriza as
conclusões de Renato Janine, de que "um projeto empenhado na extinção do Estado foi desviado para a construção de um Estado totalitário e policial." E muito menos sobre a descontinuidade entre um Marx "democrático" (o que significa esta palavra, neste contexto?) e um Lenin autoritário e que deformou sua obra.

Este engano histórico brutal só é possível em autores que só encaram a realidade através das páginas dos livros, à margem das experiências políticas concretas. Da mesma forma, seria de esperar que condenassem vivamente a república burguesa. Afinal, Napoleão, que consolidou o ideário da revolução francesa de 1789, tornou-se notável e cresceu na liderança do Estado burguês que nascia na França depois de metralhar manifestações populares em Paris e fuzilar e abusar da força das armas contra populações estrangeiras que ousassem resistir à ocupação pelas
tropas que comandava.

Ao considerar a história, Renato Janine parece acreditar mais em Pablo Milanez, que a descreveu poeticamente como um "carro alegre", do que com Engels, que a viu, no fim da vida, como "a mais cruel de todas as deusas". A história, enquanto existirem as classes sociais, é a história da luta de classes, e ela é implacável.

*José Carlos Ruy é jornalista e editor do jornal Classe Operária.

sábado, 24 de abril de 2010

Programa de TV do PCdoB

O PCdoB levou ao ar na última quinta-feira, 22, um programa partidário ousado, palpitante, otimista e de forte conteúdo político. Ao longo de dez minutos, os comunistas falam de sua participação no governo Lula, no Parlamento e de sua visão avançada sobre o país, baseada num novo projeto nacional de desenvolvimento, um dos principais pontos de seu Programa Socialista.

Confira a seguir:


www.pcdob.org.br

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Carta aberta de Brizola Neto a José Serra: o Brasil não pode mais

Li boa parte de seu discurso, senhor José Serra. Talvez eu seja hoje o que o senhor foi, na minha idade, quando era um jovem, que presidia a União Nacional dos Estudantes e apoiava o governo João Goulart no Comício da Central. Quando o senhor defendia o socialismo que hoje condena, o patriotismo que hoje trai, o desenvolvimento autônomo do Brasil do qual hoje o senhor debocha.

O senhor, como Fernando Henrique, é útil aos donos do Brasil — sim, Serra, o Brasil tem donos, porque 1% dos brasileiros mais ricos tem o mesmo que todos os 50% mais pobres — porque foi diferente no passado e, hoje, cobre-se do que foi para que não lhe vejam o que é.

O símbolo do Brasil que não pode mais, que não pode ser mais como o fizeram.

Não pode mais o Brasil ser das elites, porque nossas elites, salvo exceções, desprezam nosso povo, acham-no chinfrim, malandro, preguiçoso, sujo, desonesto, marginal. Têm nojo dele, fecham-lhe os vidros com película para nem serem vistos.

Não pode mais ser o país das elites, porque nossas elites, em geral, não hesitam em vender tudo o que este país possui — como o senhor, aliás, incentivou fazer — para que a “raça superior” venha aqui e explore nossas riquezas de maneira “eficiente” e “lucrativa”. Para eles, é claro, e para os que vivem de suas migalhas.

Não pode mais ser o Brasil dos governantes arrogantes, como o senhor, que falam de cima — quando falam — que empolam o discurso para que, numa língua sofisticada, que o povo não entende, negociem o que pertence a todos em benefício de alguns.

Não pode mais ser o país dos sábios que, de tão sabidos, fizeram ajoelhar este gigante perante o mundo e nos tornaram servos de uma ordem econômica e políticas injustas. O país dos governantes “cultos”, que sabem miar em francês e dizer “sim, senhor” em inglês.

Não pode mais ser o país do desenvolvimento a conta-gotas, do superávit acima de tudo, dos juros mais acima de tudo ainda, dos lucros acima do povo, do mercado acima da felicidade, do dinheiro acima do ser humano.

O Brasil pode hoje mais do que pôde no governo do que o senhor fez parte.

Pôde enfrentar a mais devastadora crise econômica mundial aumentando salário, renda, consumo, produção, emprego quando passamos décadas ouvindo, diante numa crise na Malásia ou na Tailândia que era preciso arrochar mais o povo.

Pôde falar de igual para igual no mundo, pôde retomar seu petróleo, pôde parar de demitir, pôde retomar investimentos públicos, pôde voltar a investir em moradia, em saneamento, em hidrelétricas, em portos, em ferrovias, em gasodutos. Pôde ampliar o acesso à educação, ainda que abaixo do que mereça o povo, pôde fazer imensas massas de excluídos ingressarem no mundo do consumo e terem direito a sonhar.

Pôde, sim, assumir o papel que cabe no mundo a um grande país, líder de seus irmãos latino-americanos.

O Brasil pôde ser, finalmente, o país em que seu povo não se sente um pária. Um país onde o progresso não é mais sinônimo de infelicidade.

É por isso, Serra, que o Brasil não pode mais andar para trás. Não pode voltar para as mãos de gente tão arrogante com seu povo e tão dócil aos graúdos. Não pode mais ser governado por gente fria, que não sente a dor alheia e não é ansiosa e aflita por mudar.

Não pode mais, Serra, não pode mais ser governado por gente que renegou seus anos mais generosos, mais valentes, mais decididos e que entregou seus sonhos ao pragmatismo, que disfarça de si mesmo sua capitulação ao inimigo em nome do discurso moderno, como se pudesse ser moderno aquilo que é apoiado pelo Brasil mais retrógrado, elitista, escravocrata, reacionário.

Há gente assim no apoio a Lula e a Dilma, por razões de conveniência-político eleitoral, sim. Mas há duzentas vezes mais a seu lado, sem qualquer razão senão a de ver que sua candidatura e sua eleição são a forma de barrar a ascensão da “ralé”. Onde houver um brasileiro empedernidamente reacionário, haverá um eleitor seu, José Serra.

Normalmente não falaria assim a um homem mais velho, não cometeria tal ousadia.

Mas sinto esta necessidade, além de mim, além de minha timidez natural, além de minha própria insuficiência. Sinto-me na obrigação de ser a voz do teu passado, José Serra. É um jovem que a Deus só pede que suas convicções não lhes caiam como o tempo faz cair aos cabelos, que suas causas não fraquejem como o tempo faz fraquejar o corpo, que seu amor ao povo brasileiro sobreviva como a paixão da vida inteira. Que o conhecimento, que o tempo há de trazer, não seja o capital de meu sucesso, mas ferramenta do futuro.

Vi um homem, já idoso, enfrentar derrotas eleitorais e morrer como um vitorioso, por jamais ter traído as ideias que defendeu. Erros, todo humano os comete. Traição, porém, é o assassinato de nós mesmos. Matamos quem fomos em troca de um novo papel.

Talvez venha daí sua dificuldade de dormir.

Na remota hipótese de vencer as eleições, José Serra, o senhor será o derrotado. O senhor é o algoz dos seus melhores sonhos.

Brizola Neto é deputado federal pelo PDT-RJ

quinta-feira, 8 de abril de 2010

José Serra e seus 'cuidados' com a Educação...

*Charge de Bira para A Charge Online

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Brigada de médicos brasileiros formados em Cuba deverá ir ao Haiti neste mês

*Por Karol Assunção

Quase três meses após o terremoto que devastou boa parte do Haiti, a população tenta, aos poucos, reerguer-se e reconstruir o país. Durante essa fase, a solidariedade e a ajuda são indispensáveis para a nação haitiana. É pensando nisso que médicos e médicas do Brasil formados em Cuba se preparam para participar de nova brigada que irá ao país caribenho.

De acordo com Janilson Lopes, coordenador da Associação Médica Nacional "Maíra Fachini" (AMN-MF), a intenção é que a nova brigada vá ao Haiti no final deste mês e permaneça no país "de três a seis meses". Segundo ele, a expectativa é que mais de 800 médicos latino-americanos graduados na Escola Latino-americana de Medicina (Elam), em Cuba, participem do grupo.

Do Brasil, cerca de dez profissionais da medicina deverão ir ao país caribenho. Mas, segundo ele, a expectativa é que o número suba para 30 ou 40 "dependendo da negociação com os governos [cubano e brasileiro]". Lopes explica que os profissionais trabalharão na implantação dos programas de saúde promovidos por Cuba no Haiti. De acordo com ele, os interessados em participar deverão procurar a embaixada cubana no Brasil ou a AMN-MF.

O trabalho de médicos formados em Cuba vem ganhando destaque no Haiti. De acordo com informações do blog de Lopes, mais de mil médicos de toda a América Latina formados na Elam já ajudaram o país caribenho nos últimos meses. Em fevereiro deste ano, ele e mais nove médicos brasileiros formados em Cuba participaram voluntariamente da brigada cubana no Haiti.

Lopes considera a experiência "muito boa" tanto do ponto de vista médico quanto humano. No entanto, revela que também passou por momentos de angústias. "Há um sentimento de impotência por não poder ajudar mais", afirma. O médico conta no blog que o grupo realizava atividades não só dentro do acampamento, mas também em comunidades, levando medicamentos e prestando serviços de assistência em lugares improvisados, como igrejas, escolas e creches.

De acordo com o coordenador da AMN-MF, a situação no país começa a mudar. Para ele, o momento de emergência já passou e, agora, passa por um processo de mudança. Fato que pode ser percebido até mesmo em relação às doenças. Durante a permanência no Haiti, Lopes percebeu que o país passava por um "momento de transição epidemiológica".

O coordenador da AMN-MF revela que, enquanto os traumas físicos diminuíam, os danos psicológicos deixados pelo terremoto começavam a ficar mais evidentes. Além disso, a falta de higiene também começou a gerar o aumento de enfermidades, como doenças respiratórias, infecções e diarreias.

Os interessados em participar da brigada podem entrar em contato com o coordenador da AMN-MF através do e-mail: jenilsonemcuba@hotmail.com

*Karol Assunção é Jornalista da Adital

  © 2009 | Template de Dicas Blogger | Orgulhosamente hospedado no Blogger Desenvolvido por | David Aragon

TOPO